Durante cinco anos, minha vida profissional me levou a Houston, onde um ritmo acelerado de trabalho e o estilo de vida americano contribuíram para um aumento significativo de peso, atingindo a marca de 122 quilos. Adaptado à cultura americana, minha paixão por uma Harley Davidson me integrava a um clube que representava mais do que uma simples associação a uma marca de motocicletas, era um estilo de vida.
A reviravolta ocorreu quando recebi a notícia de que seria transferido de volta ao Rio de Janeiro em 2017. O impacto da mudança foi avassalador, e uma onda de descontentamento me atingiu. Nada fazia sentido; afinal, eu me via como um "americano" e questionava o que estaria fazendo de volta ao Brasil, especialmente no Rio de Janeiro. Parecia um retorno que não se alinhava mais com quem eu me tornara. A busca por uma readaptação começou.
A ideia de perder peso e aproveitar o que o Rio tinha de melhor, suas paisagens deslumbrantes e o mar, surgiu como uma estratégia para me reconectar com a essência carioca. Minha jornada começou com a escolha de uma tenda à beira da praia, onde uma comunidade vibrante se dedicava à natação, especialmente no mar, um esporte que sempre me atraiu. Pouco sabia eu que essa decisão desencadearia uma transformação profunda.
O despertar veio com a paixão pelo nascer do sol, agora uma rotina matinal às 3:00 da manhã. Entendi conceitos como watts, fpt, periodização e groupsets, mergulhando no universo do triathlon. Surpreendentemente, até a corrida, uma atividade que anteriormente me parecia desafiadora, tornou-se uma fonte de prazer. Aquilo que inicialmente parecia fora de lugar agora fazia parte de quem eu era. Desde então, 40 quilos se tornaram uma narrativa de superação, alcançada sem a necessidade de cirurgias ou medicamentos.
De 2018 até hoje, participei de provas nacionais e internacionais, variando de sprints até competições de distância completa. No entanto, o ápice desse percurso foi alcançado este ano, quando conquistei a tão sonhada vaga no Mundial de 70.3 de St. George. A sexta colocação no 70.3 de Monterrey, no México, foi o trampolim que levou o ex-gordinho carioca a enfrentar os desafios globais do triathlon.
Agora, mais brasileiro e carioca do que nunca, sinto-me em casa nos palcos mundiais do triathlon. Minha jornada não é apenas física, mas uma história de redescoberta da identidade e da paixão pela vida saudável. Que esta história inspire outros a desafiarem suas próprias limitações e abraçarem as transformações que a vida nos reserva. Juntos, somos capazes de superar qualquer obstáculo e alcançar o extraordinário. O ex-gordinho tornou-se um triatleta global, celebrando a vitória sobre os próprios limites. O que pareceu um retorno improvável ao Rio revelou-se a verdadeira jornada de casa.
